Texto: Fernando Reis
Tu não pareces muito satisfeito com o vosso álbum anterior. Isso foi uma espécie de motivação para este disco?
Sim, julgo que sim. Eu queria ter uma espécie de vingança pessoal do último disco, e acho que isso me motivou bastante para fazer música boa para este.
Quando falas de vingança, a que te referes?
Eu sei que posso fazer melhor do que fiz no «Sceptre Of Deception». Acho que o conceito lírico desse disco é bom, mas que retirava demasiada atenção à música, o que fez com que o álbum não resultasse tão bem quanto deveria ter resultado. Agora queria provar-me a mim mesmo que consigo fazer boa música (risos).
Estás totalmente satisfeito com o resultado final deste disco?
Sim. Não tenho nada de que me queixar. Apenas gostava que tivessemos oportunidade de ficar em estúdio por mais umas duas semanas, porque queríamos gravar também uma balada acústica, e não tivemos tempo para o fazer. Tirando isso, acho que não há nada que pudesse ter sido feito melhor. Por isso, estou muito muito satisfeito com o disco.
Isso é um bom sinal, especialmente quando mudaste de guitarrista e de baixista antes da gravação do álbum...
Sim, mas acho que ambas as mudanças ocorreram para melhor, porque aos primeiros três álbuns de Falconer faltam solos de guitarra realmente bons. E agora finalmente temo-los. Acho que isso é um extra para este novo álbum.
Porque é que não gostas de fazer solos de guitarra?
Porque não sou assim tão bom guitarrista (risos). E também não tenho motivação para me tornar um bom guitarrista. Prefiro concentrar-me em escrever música. A guitarra não é para mim... eu não tenho paciência para ensaiar assim tanto. Não acho assim tão divertido ensaiar escalas rápidas para cima e para baixo... eu apenas faço melodias, é essa a minha especialidade.
Então foi um alívio teres encontrado o Jimmy e delegares essa responsabilidade nele...
Sim, exactamente. Ele adora fazê-lo, fá-lo, e eu não sabia como fazê-lo. Assim posso concentrar-me em fazer o meu material o melhor possível.
Então agora, com tudo no sítio no alinhamento da banda, este álbum é exactamente aquilo que tu querias de Falconer?
Sim, é mais o que eu queria de Falconer nesta altura. Não creio que quisesse fazer este álbum exactamente em 2001, por exemplo, porque estava musicalmente noutro sítio, por assim dizer. Para esta altura, acho que é o álbum perfeito para Falconer. Vamos ver como soamos daqui a, digamos, quatro anos.
Pode então dizer-se que a direcção musical de Falconer segue a tua evolução musical pessoal, certo?
Sim, está certo. Sou eu quem escreve cerca de 80% do material e, por isso, os meus gostos mandam na banda, claro (risos).
Foi por isso que deixaste cair algumas das tuas influências folk até ficares apenas com poucas referências a esse estilo de música neste disco?
Não. Eu não queria deixar cair as influências folk - apenas aconteceu. Acho que foi por causa da nova formação. Com a nova formação, sentimo-nos muito intensos e energéticos, e isso acabou por reflectir-se também na própria composição. No próximo álbum acho que vão haver mais influências folk de novo porque agora, pela primeira vez, vou poder concentrar-me em levar a música numa determinada direcção. E essa direcção vai ser um som mais virado para o folk.
Não estando tu preocupado com isso neste disco, provavelmente o Kristoffer teve algum espaço para colocar as suas próprias influências também nas músicas...
Basicamente, eu não gosto assim tanto de escrever letras, e eu sei que ele gosta. Então deixei-o escrever um par de letras, e de repente ele apareceu com uma música inteira. Eu acho que isso é uma maneira muito boa de trabalhar, porque assim posso concentrar-me em fazer a minha música tão boa quanto possível em vez de me concentrar em fazer letras, que eu não tenho assim tanto interesse em fazer.
Esse modo de trabalhar dá-vos uma personalidade especial enquanto banda: a música é power metal melódico, enquanto as letras são sarcásticas e sobre assuntos reais, tipo Skyclad...
Sim, tens razão. Acho que até agora tudo o que o Kristoffer escreveu é baseado em algo que eu lhe disse. Eu posso escrever uns dois versos sobre um tema específico e depois dou-lhos para ele os acabar. Então, ele tem esse assunto para desenvolver. E são esse tipo de letras que têm mais significado para as pessoas, em vez de apenas escrevermos sobre dragões e espadas e coisas dessas, que não significam exactamente nada. A nossa abordagem é mais do senso-comum, por assim dizer, em vez de contos de fadas e fantasia.
Tu disseste numa entrevista recente que a «I Refuse» é uma das tuas músicas favoritas deste álbum...
Uma das minhas favoritas, sim. Mas a melhor música é a «Humanity Overdose».
Será que vai haver mais material lento como a «I Refuse» no próximo disco?
Ainda não pensei nisso até neste momento. Até agora, as músicas do próximo disco são mais numa onda mais Falconer tradicional. Mas ainda pode uma música de rock'n'roll ou uma música realmente muito pesada no próximo disco. Mas ainda não tenho nada nesse estilo, até este momento.
É estranho falares de um estilo "tradicional" de Falconer, quando eu nunca sei o que esperar de vocês no disco a seguir!
(risos) Sim, talvez tenhas razão. Música tradicional de Falconer - só isso. O que seja que ela for.
As influências folk estão mais na última parte deste disco, não estão?
Sim. Essa foi uma das últimas músicas que eu fiz. Uma das músicas que escrevi foi a «Power», por exemplo, que não tem quase nada a ver com Falconer... e nessa altura pensei "OK, este álbum precisa de uma música com o 'verdadeiro' som de Falconer. O 'velho som' de Falconer". Foi por isso que fiz a «Child of the Wild».
Quando colocas uma música como essa na última faixa, deixas-nos a pensar se o próximo disco não será um regresso ao 'velho' som de Falconer...
Sim, tens alguma razão. Espero que a tua premonição não seja em vão...
"Esperas"!?
Eu sei!
... É como se a música viesse até ti, e não fosses tu a criar a música...
Sim, a maior parte dela é assim. Eu não me esforço para escrever música... espero até ter uma ideia, em vez de forçar-me a ter uma ideia. Porque quando forço uma ideia a música acaba por não ser tão boa quanto deveria ser. É melhor esperar até ter uma ideia, e depois escrever sobre ela.
Hoje em dia grande parte do sucesso comercial de um disco depende de estratégias de marketing e da imagem de uma banda... vocês gravaram um vídeo para o tema «Emotional Skies». Sentes saudade do tempo em que a música era suficiente para promover um disco, ou achas que as coisas estão melhores agora?
Acho que é mais ou menos a mesma coisa, apesar de eu não estar assim tão envolvido na cena actualmente. Nós fizémos o vídeo de uma forma amadora, por isso não creio que vá estar sobre-produzido. Nós fizémos o vídeo com os nossos próprios meios... é claro que se ficar bom, pode ser que passe em algumas televisões. Mas é claro... a música é 95% da importância de uma banda... o resto é apenas maquilhagem.
Deve ser divertido gravar um vídeo, mas hoje em dia é quase uma obrigação. Se não gravares um vídeo, não estás a fazer toda a promoção possível por um álbum...
Sim, tens razão. Mas se queres fazer um vídeo, tens que gastar pelo menos Eur 4.000. E eu não vou fazer isso pessoalmente. Teria que ser a Metal Blade a fazer isso, e eles não o querem fazer. Foi por isso que fizémos um vídeo 'na brincadeira', por assim dizer...
Achas que, de certo modo, foi melhor a Metal Blade não o fazer, porque teria sido uma pressão sobre as vendas do álbum, para pagar o investimento?
Há um aspecto positivo e um negativo, penso eu. O aspecto positivo é que mais pessoas vêm o vídeo, e se o vídeo for bom as pessoas pensam que a música também é boa. É por isso que a MTV vende tantos álbuns - porque os vídeos prometem mais do que as músicas podem muitas vezes oferecer. Por isso é sempre muito boa promoção, se o vídeo for bom. Por outro lado, acho que se a Metal Blade produzisse um vídeo para cada uma da bandas, os programas de metal ficariam sobrelotados. Mas claro - se fizessem um vídeo apenas para Falconer, isso seria o melhor (risos). Mas isso não vai acontecer.
E não te sentirias pressionado?
Creio que não. Mas é claro, sem passar por essa situação não serei capaz de te dar uma resposta precisa.
Tenho notado que os Mithotyn têm cada vez mais um estatuto de banda de culto. O que pensas disso?
É bom o facto das pessoas apreciarem o que fizeste no passado, mas acho algo estranho esse tipo de apreciação não acontecer quando tinhamos a banda. De repente, três anos depois da banda morrer, toda a gente gosta de Mithotyn. Isso é algo bizarro (risos). Eu não quereria tocar o material de Mithotyn de novo - eu mudei.
Achas que todo esse interesse deriva do facto da banda ter desaparecido?
Sim, acho que sim. Há mais interesse devido ao facto de já não estar a lançar nada de novo. É por isso que o Elvis ainda é tão grande... porque morreu. Se agora tivesse 73 anos, não seria tão grande.